segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A Igreja: Minha Mãe

Por D. Estevão Bettencourt, OSB



Existe na rica Tradição cristã uma afirmação de S. Cipriano, Bispo de Cartago e mártir (+ 258), que talvez surpreenda muitos cristãos de nossos dias: «Não pode ter Deus como Pai quem não tenha a Igreja por Mãe» (De Catholicae Ecclesiae Unitate, c. 6). Estas palavras foram escritas numa época turbulenta, em que S. Cipriano se via frente a duas tentativas de ruptura da Igreja; para ele, a fidelidade à Igreja era a fidelidade a Deus Pai; ser filho do Pai Celeste é ser filho da Igreja. Como entender isso?
O Evangelho nos diz que “ninguém vai ao Pai senão por Cristo” (cf. Jo 14,6). Cristo que é inseparável do seu corpo eclesial ou da sua Igreja (cf. Cl 1,24). O mistério da Encarnação não é um fato isolado, mas algo que repercute em toda a história do Cristianismo. A vida do Pai, que se derramou sobre a humanidade de Cristo, chega a cada cristão através da Santa Igreja, que, por isto, é adequadamente chamada "Mãe" na Tradição cristã.
Mãe... Este vocábulo é dos mais significativos para todo ser humano. É talvez o primeiro conceito que a criança fórmula, a primeira palavra que ela pronuncia. É da mãe que a criança recebe a vida e os rudimentos da educação e do saber; os ensinamentos, os exemplos, os costumes, o amor da mãe se gravam na memória dos filhos e se tornam decisivos para o futuro destes. É na sua mãe que a criança encontra o primeiro sustentáculo, o seu amparo, a sua força e alegria; é a mãe que explica o mundo ao filho e lhe mostra tudo o que há de bom e belo, como também o que há de insidioso, neste mundo.
Pois bem. A Tradição cristã é constante ao afirmar que a Igreja é nossa Mãe. Não conheço Jesus Cristo senão através dos ensinamentos multisseculares da Santa Mãe Igreja; recebi o Livro que me fala de Jesus Cristo das mãos dessa Mãe e Mestra; foi ela que ouviu, por primeiro, a Palavra de Cristo; vivenciou-a, aprofundou-a e consignou-a por escrito nos livros do Novo Testamento. Aliás, que cristão seria eu, que seria de minha fé, que seria minha oração, se eu estivesse entregue a mim mesmo e me encontrasse a sós diante da Bíblia? Talvez eu fizesse a Bíblia dizer o que eu pensasse, em vez de ouvir a genuína mensagem de Cristo recebida de viva voz pela Igreja e oportunamente redigida pelas suas mãos, que foram Mateus, Marcos, Lucas,...
Mesmo aqueles que se afastam da Igreja para ficar somente com Jesus Cristo só podem falar do Cristo que eles conhecem através da Igreja. Não há outra via de acesso a Cristo senão a Tradição viva da Igreja. Apesar disto, há aqueles que a abandonam, embora alimentados por essa Santa Mãe. Um vento de crítica amarga bate em muitas mentes e resseca os corações, impedindo-os de ouvir o sopro do Espírito. Muito sabiamente dizia S. Agostinho: «Onde está a Igreja, aí está o Espírito de Deus». A Igreja é minha Mãe. As censuras que lhe são feitas, não carecem, todas, de fundamento. Mas o volume dessas queixas não supera a grandeza do mistério-sacramento que é a Santa Igreja, o Corpo de Cristo prolongado!
FONTE: http://www.veritatis.com.br/apologetica/artigospapaprimado/845-a-igreja-minha-mae. Acessado em 06 de novembro de 2010.

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